quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fatos de vida

Aplicando a lei

Experiência de um defensor público brasileiro, que trabalha para a fraternidade. “Em cada audiência, eu não vejo um processo burocrático, mas uma pessoa a respeitar e amar”

20/11/2010



«Tenho 34 anos, sou brasileiro, casado e com dois filhos, e trabalho ao serviço dos mais pobres, ajudando-os a reivindicar os seus próprios direitos básicos». Assim se apresenta Anísio Caixeta Júnior, jovem aderente do movimento dos Focolares, que faz o trabalho de defensor público: a figura prevista pelo ordenamento jurídico brasileiro para assegurar uma defesa a quem não tem meios para poder contratar um advogado.

É fácil entender que, para além de cumprir o seu próprio dever com profissionalismo, Anísio é também movido por grandes ideais: «Desde criança entusiasmou-me o ideal da unidade de Chiara Lubich e sempre procurei ajudar o próximo gratuitamente, e via que assim eu me realizava. Também agora continuo a fazer a mesma coisa na minha profissão. Esse mesmo ideal ajuda-me a recordar, antes de cada audiência, que ali à minha frente não está uma prática burocrática, mas uma pessoa a respeitar e amar.»

E não se trata só de convicções morais: «Na história do direito – afirma Anísio – ao reconhecimento de alguns direitos fundamentais imediatos, como o da vida e da propriedade, juntaram-se sucessivamente os direitos da liberdade e da igualdade, emersos com a revolução francesa. A Declaração Universal dos direitos do homem, veio evidenciar um outro ponto fundamental: viver em espírito de fraternidade. Também a Constituição brasileira quis introduzir no seu texto o princípio da fraternidade que, por isso, não é uma simples ajuda que se dá, de vez em quando aos necessitados, mas um ponto fundamental que a Constituição se compromete a tutelar e promover. Quando ajo assim, impulsionado por este ideal de fraternidade, estou, na realidade, a aplicar a lei fundamental da minha Constituição!»

As experiências que Anísio vive “simplesmente aplicando a lei”, no dia a dia, são verdadeiramente muitas. Eis uma daquelas que ele gosta de contar: «Um dia encontrava-me com um meu colega fora do tribunal, próximo de um semáforo e aproximou-se um menino pedindo esmola. Imaginem a cara dele quando lhe respondemos: “Mas nós podemos fazer por ti muito mais do que dar-te umas moedinhas! Se tu, por exemplo não tens família, podemos ajudar-te a inserir-te num programa social específico, podemos ajudar-te da mesma forma se tu vives na rua ou se não tens dinheiro. Todos estes são, de facto, direitos que o Estado se deve empenhar a garantir porque é a Constituição que exige a criação de instituições que tutelem estes teus direitos. E o meu trabalho é precisamente numa destas instituições!”»

O defensor público é uma figura heroica? Anísio é doutra opinião: «Não penso certamente que com o meu trabalho estou a mudar o mundo. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de que nem sequer um copo de água é dado em vão, fascina-me extraordinariamente e estou convencido que também este simples gesto pode contribuir para criar aquela nova humanidade, dedicada à fraternidade que, certamente, o direito pode sustentar, mas que é preciso construir a partir de nós mesmos!»

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Bento XVI, incompreendido por muitos jornalistas, segundo Seewald


O autor do livro revela sua experiência de entrevistador do Papa


ROMA, terça-feira, 23 de novembro de 2010 (ZENIT.org) - O autor do livro "Luz do mundo", Peter Seewald, está visivelmente decepcionado pelo fato de que a recepção do livro tenha se reduzido a artigos sobre o preservativo, quando ele pretende falar do "futuro do planeta", como indica no subtítulo: "O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos".

Durante a apresentação no Vaticano, hoje, o jornalista e escritor bávaro respondeu às perguntas dos jornalistas, em alemão, e deplorou diante deles a "crise do jornalismo", como demonstra a acolhida oferecida à sua obra.

"Nosso livro - afirma - evoca a sobrevivência do planeta que está ameaçado, o Papa lança um apelo à humanidade, nosso mundo está no transe do colapso e a metade dos jornalistas só se interessa pela questão do preservativo."

Seewald insiste em que o Papa busca "a humanização da sexualidade" e apresenta a questão de fundo: "A sexualidade tem algo a ver com o amor?". Trata-se da "responsabilidade da sexualidade".

Para o escritor, o excesso de concentração no tema do preservativo é "ridículo", enquanto se esquece da questão de transformar o mundo, que é a proposta do Papa, pois "não podemos continuar assim", como insiste o livro.

Peter Seewald reconhece que o Papa apresentou um amplo "panorama", em seis horas de entrevista realizadas em junho passado, em Castel Gandolfo, a residência de verão dos pontífices.

Sublinha que o importante é descobrir o que verdadeiramente o Papa "faz" e "diz": este é o "presente" deste livro, que permite "ouvir sua voz", a forma como "interpreta" seu pontificado, "viver" com ele de maneira muito pessoal.

O Papa se coloca na categoria dos papas "pequenos", frente aos "grandes" papas, como João Paulo II. No entanto, Seewald, quem descobriu a fé católica que havia perdido na juventude precisamente nos diálogos com o cardeal Joseph Ratzinger nos anos 90, não hesita em falar dele como um "gigante", por seu pensamento, sua "autenticidade" e sua capacidade de diálogo.

Reconhece que trabalhou sem a "censura" do Papa, quem o deixou escrever e só apontou algumas "precisões".

O jornalista admira no Papa seus "amplos horizontes" de intelectual "brilhante" e sua "força espiritual", assim como sua "simplicidade".

Em definitiva, permite descobrir um Ratzinger que não tem nada a ver com o que com frequência se diz dele: nem o "Panzer Kardinal" de ontem, nem o "Panzer Papst" de hoje, mas um Bento XVI que emana luz.

(Anita S. Bourdin)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Amor e comunhão são sinal autêntico do Evangelho no mundo

Sábado, 30 de outubro de 2010, 14h38 - Canção Nova

Kelen Galvan

Da Redação


Paula Dizaró / CN Roma
Na ordem (esquerda para a direita): Michelle Moran, Maria Voce e Andrea Roccucci

Na tarde deste sábado, 30, representantes de alguns movimentos e novas comunidades fizeram uma mesa redonda, para partilhar a experiência dos Movimento Eclesiais no Novo Milênio. Participaram a sucessora de Chiara Lubich - fundadora do Movimento dos Focolares, Maria Voce; a presidente dos Serviços Internacionais da Renovação Carismática Católica (ICCRS), Michelle Moran; e o representante da Comunidade Santo Egídio, Andrea Roccucci.

Maria Voce iniciou a colocação e recordou a expressão usada por João Paulo II e repetida por Bento XVI, que chama as novas comunidades como a "nova primavera da Igreja". Segundo ela, essa expressão descreve a vitalidade e novidade dos carismas surgidos na Igreja como resposta às necessidades atuais do mundo.

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Sobre isso, Michelle Moran, destacou que "a primavera está associada ao nascimento" e explicou que na Bíblia se fala sobre a chuva que cai cedo e a que cai mais tarde sobre as plantas. "As chuvas fazem com que as sementes cresçam, mas são as chuvas da primavera que preparam as plantas para a colheita".

"Estamos entrando em um novo tempo. Eu acredito que temos chegado ao momento da segunda chuva, de primavera. É ela que conduz a colheita. Este é o tempo de dar os frutos maduros", ressaltou Michelle.

Maria Voce recordou a missão do Movimento dos Focolares, de promover a unidade, até os confins do mundo. "Um povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo", destacou.

Segundo ela, o pedido de Jesus "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei" resume nossa tarefa como cristãos. E enfatizou que "é o amor mútuo que nos faz expressão credível do Evangelho".

"Nossa tarefa é amar. E amar significa ser capaz de sentir o irmão da fé, estar dispostos a partilhar alegrias, sofrimentos, a oferecer a verdadeira e profunda amizade", destacou Maria.

Ela destacou que amar é muito exigente, porque precisamos esquecer de nós mesmos para nos dar ao outro, mas afirmou que "o amor nos permitirá ser um dom para o outro".

Renovação Carismática

Michelle Moran destacou que a RCC não tem um fundador humano, mas foi iniciativa do próprio Deus, e que a ação do Espírito Santo não é uma graça apenas para esse movimento eclesial, mas sim para toda a Igreja. "[A RCC] é como um grande rio. Existem muitas comunidades, ministérios e movimentos ali dentro... mas mesmo assim, todo o rio é um grande movimento eclesial", exemplificou.

Primeiramente, disse ela, precisamos reconhecer que não somos os únicos movimentos a experimentar essa novidade de Deus. "O Senhor está trabalhando em vários movimentos eclesiais".

Ao reconhecer isso, chegamos ao segundo nível, que é o de nos relacionarmos uns com os outros. E, muito mais, devemos chegar ao terceiro nível e trabalhar nossa comunhão. "Nossos relacionamentos começam a se estreira com a comunhão. É só ela que pode trazer um relacionamento frutuoso".

Sobre o assunto, o Andrea Roccucci afirmou que "nossos encontros são uma escola de comunhão" e, que isso é muito importante. "Na comunhão é que se realiza a universalidade. É ela que nos abre ao outro e introduz algo de mim nele".

Desafios atuais

Roccucci destacou que é preciso "olhar para fora das janelas da Igreja" e reconhecer o tempo que estamos vivendo, a grande necessidade do mundo atual. "O mundo tem sede de alguém que os instrua, oriente. O mundo precisa do testemunho do Evangelho e de uma vida cristã", afirmou.

Segundo ele, podemos até achar que o Cristianismo seja frágil diante dos problemas atuais, mas isso não é verdade. "Este é o tempo oportuno para se viver o Cristianismo. O tempo é difícil e oportuno para ser viver o Evangelho", concluiu.