sábado, 26 de junho de 2010

Ajuda aos flagelados pelas chuvas no nordeste

Mariápolis Ginetta, 24 de junho de 2010.

Caríssimas e caríssimos

Renovamos com cada um a nossa unidade, garantindo as nossas orações para tudo o que vocês têm no coração.

Escrevemos a vocês para comunicar algumas notícias recebidas da região nordeste que, como vocês certamente têm acompanhado pelos meios de comunicação, está vivendo uma situação difícil devido às intensas chuvas.

Muitas cidades dos Estados de Pernambuco e Alagoas foram atingidas, particularmente em Palmares, Barreiros e Branquinha a situação é muito grave. Muitas pessoas das nossas comunidades, famílias de focolarinas, por exemplo, perderam casas e tudo o que tinham: lojas, supermercado..., encontrando-se impossibilitadas de continuar o próprio trabalho.

Os focolares ainda não conseguiram saber o número exato dessas pessoas. Puderam falar só por telefone com algumas delas porque as estradas estão interditadas e, agora que não chove tão forte, começam a ter alguma notícia.

As comunidades do Nordeste estão se movimentando para ajudar, sem saber muitas vezes por onde começar, pois faltam: água potável, energia elétrica, comida, roupas, remédios…, rezam e oferecem tudo, confiantes no amor de Deus.

Em vista desta situação em que também pessoas da nossa família da Obra perderam tudo, sentimo-nos mais do que nunca interpelados a dar uma resposta a Jesus Abandonado que sofre nelas e nos perguntamos como agir para fazer-lhes chegar um gesto concreto, unindo todos os nossos esforços.

Pensamos, então, em suscitar uma comunhão espontânea em dinheiro e também em roupas de verão, que possam ser enviados aos focolares do Nordeste, pois eles conhecem melhor a situação das famílias. Algumas atividades poderão já ser encaminhadas, pois as necessidades são urgentes. Logo na segunda feira, abriremos uma conta bancária, especialmente para esta finalidade, e lhes comunicaremos o número. Já enviamos uma soma para a família de Mirta, focolarina aqui da Mariápolis Ginetta, que perdeu tudo.

Certos de que a Providência não faltará, também pela nossa generosidade, agradecemos a todos que puderem doar ou depositar alguma coisa, fazendo com que muitos irmãos nossos experimentem o amor de Deus por intermédio da nossa ajuda concreta.


Com Jesus entre nós,


Gehilda e Bianco


MOVIMENTO DOS FOCOLARES MARIÁPOLIS GINETTA

CNPJ: 05.056.796/0001-18

Banco do Brasil 001 - Vargem Grande Paulista/SP

Agência: 3583-1

conta corrente: 11.203-8

sexta-feira, 11 de junho de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 10

Etta: Mudemos de continente e vamos ao Brasil.

Amauri, sabemos que viveu uma dura experiência. Poderia contá-la para nós?

Amauri: Miriam e eu estávamos casados há 17 anos e tínhamos quatro filhos, quando me dei conta da sua profunda mudança em relação a mim. Muitas vezes se ausentava de casa por causa do seu trabalho como assistente social numa entidade do Governo que se dedicava aos adolescentes abandonados. Depois de alguns meses descobri que tinha uma relação com um seu colega.

Foi um momento terrível: vi desmoronar a nossa relação, a família, a minha vida. Senti-me traído, profundamente ferido no meu orgulho e desesperado, vendo a destruição de tudo quanto havíamos construído ao longo dos anos.

Pouco depois a minha mulher resolveu abandonar a nossa família. Um dia, enquanto eu estava no trabalho, veio em casa buscar as suas coisas e brigou com as filhas maiores, de 15 e 17 anos. Não havia alternativa para mim, podia só aceitar a sua decisão, embora isto nos tenha causado enorme sofrimento.

Rezei e pedi a Deus: “Ajude-me você! Dê-me a força e a graça para vencer tudo!” Tinha a certeza do Seu amor.

Etta: E como fez para continuar a acreditar no Seu amor?

Amauri: Não foi fácil. Pedi ajuda também a minha irmã, focolarina, que me fez refletir sobre o quanto também Jesus não merecesse o sofrimento que passou: foi traído e sofreu a humilhação e o abandono do Pai. Ele, reconhecido e amado, me recolocou de pé, dia após dia, levando-me a uma escolha mais radical de Deus.

Fixando a mente e o coração em Deus, a minha dor encontrava significado e pelo alimento quotidiano da Eucaristia, devagar, nascia em mim um outro homem. Ao ódio do início se estava substituindo um sentimento de misericórdia. Finalmente consegui perdoar minha mulher.

Fazia parte de um núcleo onde encontrei a força para ir adiante.

Depois de um ano da separação, o Ideal iluminava cada dia mais a minha vida com os filhos e assim conseguia acolher as suas várias exigências do crescimento.

Para ter mais tempo disponível para eles, deixei o trabalho de engenheiro numa usina de cana de açúcar, que me ocupava muito, e montei uma pequena empresa. Fiz esta escolha sabendo que os nossos recursos econômicos diminuiriam, porque o trabalho anterior era bem retribuído, mas não temi.

Passados alguns anos, transferi-me para a Mariápolis Ginetta, a cidadela do Movimento dos Focolares no sul do Brasil, para radicar-me melhor na vida da Obra.

Olhando agora para quanto Deus operou em nós, estamos-Lhe profundamente gratos: as três filhas entraram no focolare e estão felizes, completamente realizadas nesta vida de total doação a Deus, enquanto o filho mais novo está concluindo a universidade.

Alberto: Temos aqui uma pessoa especial. Para termos a certeza de poder apresentar o seu depoimento de vida, nós a entrevistamos há alguns meses, por ocasião de uma visita que fez ao Centro Mariápolis de Castelgandolfo. Chiara Minestrina, de Trento, na Itália. Escutemos juntos a sua experiência.

“Esperar contra qualquer esperança”, poderia ser a síntese da sua vida Chiara. O que significou e o que significa ainda hoje, para você, o encontro com Jesus Abandonado?”

Chiara: Leio para você uma passagem do meu diário de alguns anos atrás. “Tateio nesta dolorosa escuridão, solitária e de lágrimas da alma, um grito silencioso que ultrapassa galáxias sem confins, voltadas para o alto num eco sem fim. Mas onde está você? Por que não fala? O que faz enquanto grito a minha dor, a minha fraqueza, a minha solidão? Cerre os dentes, dizia a mim mesma, e acredite, não obstante tudo. Acredite para além do inacreditável, do impossível, perder tudo. Nada, nada deve restar. Ouvia a minha alma chorar. Nada me restou, um nada repleto do tudo, Deus só”.

Alberto: Para compreender estas suas palavras poderia ser uma ajuda repercorrer alguns momentos da sua vida, Chiara?

Chiara: Concluídos os estudos, iniciei a trabalhar no hospital da minha cidade, em Trento, no norte da Itália, como enfermeira profissional. Apreciava tudo: viajar, tocar violão, fotografar, ler, estudar línguas, conhecer povos e culturas diferentes, escalar montanhas ou contemplar o mar, cantar ao redor da fogueira do acampamento, ou mesmo extasiar-me diante dos jogos de luz ocasionados pelo sol nas folhas de um bosque. Além disso havia programado ir a Fontem, nos Camarões, à nossa Cidadela, para enriquecer-me, porque desejava desenvolver a minha bagagem cultural e humana. Só que não tinha feito as contas com o imprevisto.

Tive uma reação violenta a um fármaco, inexplicável; cheguei a ser internada com urgência no setor do hospital em que eu trabalhava. A partir daí teve início um calvário feito de exames, internamentos, viagens a várias cidades, hospitais diferentes, tratamentos ou tentativas de tratamentos de todos os tipos, esperanças, expectativas, desilusões, fraqueza, mas sobretudo muita, muitíssima dor, que nem mesmo a morfina fazia passar, jamais conseguiu eliminar. A minha demolição física iniciou devagar e continua constantemente gota a gota no quotidiano.

Lembro o momento em que, pela última vez, coloquei o meu violão na capa. Chorava, porque intuía que era mesmo a última vez. As minhas mãos doíam demais e sabia que, cada piora era irreversível.

Noutra ocasião, por causa de um gravíssimo erro médico, corri o risco de perder uma perna. Naquela circunstância, com certeza, não teria mesmo agüentado sozinha. A frase de uma amiga de Ideal me ajudou deveras a não me afogar num desespero total. «Você sabe o que é esta dor. Carreguemo-la juntas, mas se você não agüentar, não se preocupe, nós a carregaremos por você». Naquele instante a situação do meu corpo não mudou, porém no íntimo toquei a força da unidade.

Alberto: Quanto lhe deve ter custado dizer sim a Jesus, ou melhor ao “sócio” como você diz ...

Chiara: Houve momentos em que foi tremendo Lhe dizer sim. Sim a perder o trabalho que muito amava, sim a ficar definitivamente nesta cadeira de rodas. Pensando bem, é uma coisa de loucos Lhe dizer sim, constantemente, tenazmente, continuamente. E’ de loucos atirar-se no vazio, confiando unicamente Nele, dando-Lhe carta branca, deixando-O agir. Não obstante, paradoxalmente, cada queda aparente no vazio, na escuridão, torna-se um mergulho na luz, e o meu sócio nunca deixa de me surpreender. Sabe, no ano passado, deu-me até a possibilidade de escrever um livro com o título “Cruel delicadíssimo amor”, onde narro esta experiência. E todos os dias recebo e-mails, cartas de pessoas que se abrem, se confidenciam, que voltam a esperar, graças a este sim radical que eu digo a Ele, ao meu sócio.

Além disso, Chiara Lubich esteve ao meu lado desde quando começou este calvário. Eu lhe escrevo muitas vezes, a coloco ao corrente, dando-lhe a minha alma, unindo-a à sua. E ela me responde, me ensina a conviver com Ele abandonado, no silêncio, na solidão, e a sorrir mesmo entre as lágrimas. Numa palavra, me ensina a estar de pé sozinha, forte, contudo, consciente da unidade a distância com ela.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O EXAME

Se fosses estudante e viesses a saber, por acaso, as perguntas do exame de fim de ano, tu te sentirias um felizardo e prepararias bem as respostas.

A vida é um prova e, no final, ela também deverá passar por um exame. Mas o infinito amor de Deus já disse ao homem quais serão as perguntas: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber” (Mateus 25,35). As chamadas obras de misericórdia serão a matéria do exame, aquelas obras em que Deus vê se o amamos realmente, tendo-o servido no irmão.

Talvez seja por isso que o papa com freqüência simplifica a vida cristã, ressaltando as obras de misericórdia.

E nós fazemos a vontade de Jesus se transformamos a nossa vida numa contínua obra de misericórdia. Afinal, não é difícil nem muda tanto o que já estamos fazendo. Trata-se de elevar cada contato com o próximo a um plano sobrenatural. Qualquer que seja a nossa vocação: de pais ou de mães, de agricultores ou de funcionários, de deputados ou de chefes de Estado, de estudantes ou de operários, temos continuamente, durante dia, ocasião direta ou indireta de dar de comer aos famintos, de instruir os ignorantes, de suportar as pessoas molestas, de aconselhar os indecisos, de rezar pelos vivos e pelos mortos.

Uma nova intenção a cada gesto nosso em favor do próximo, seja ele quem for, e cada dia da vida servirá para preparar-nos ao dia eterno, entesourando bens que a traça não corrói.

Chiara Lubich (Ideal e Luz, pg. 121, editora Cidade Nova)

sábado, 5 de junho de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 9

A Atração do Tempo Moderno

Eis a grande atração do tempo moderno:

atingir a mais alta contemplação

e manter-se misturado com todos,

lado a lado com os homens.

Diria mais:

perder-se no meio da multidão,

para impregná-la do divino,

como se ensopa um naco de pão no vinho.

Diria mais:

partícipes dos desígnios de Deus

sobre a humanidade,

traçar sobre a multidão recamos de luz

e, ao mesmo tempo, dividir com o próximo

a injúria, a fome, os golpes, as alegrias fugazes.

Porque a atração do nosso, como de todos os tempos,

é o que de mais humano e mais divino

se possa pensar: Jesus e Maria,

o Verbo de Deus, filho de um carpinteiro;

a Sede da Sabedoria, mãe de família.

EXPERIÊNCIAS QUE EVIDENCIAM DUAS CARACTERÍSTICAS DA VOCAÇÃO:

O RADICALISMO E A LIBERDADE.

Etta: Esta manhã, folheando juntos o álbum da nossa história, repassamos as etapas de uma aventura que podemos chamar humano-divina. Esta tarde, ao invés, vamos mergulhar na nossa vida presente com experiências que evidenciam duas características da nossa vocação: o radicalismo e a liberdade.

Alberto: Chegaram muitos testemunhos dos voluntários do mundo inteiro, que nos tocaram, porque mostram que o Evangelho é verdadeiro e que o Ressuscitado está vivo e presente na História da humanidade, da mesma forma como em cada pequena ou grande história pessoal. É’ impossível apresentá-las todas a vocês, como mereceriam, tivemos que escolher só algumas.

Etta: Estão aqui conosco: Amauri do Brasil, Chiara da Itália e Alberto do México, Daisy e Samir, um casal do Líbano, que conseguiu chegar aqui, apesar das dificuldades. Todos rezamos pelo país de vocês e para que pudessem vir.

Alberto: Daisy e Samir, que conseqüências trouxe à família de vocês a escolha de viver com radicalismo a espiritualidade da unidade?

Daisy: Nós dois nascemos em famílias cristãs praticantes. Conheci o Movimento aos 17 anos, numa Mariápolis e desde então a escolha de viver a espiritualidade da unidade deu sentido a minha vida.

Samir: Conheci o Ideal através de Daisy, quando nos casamos, mas hesitei no início: muitas vezes fazia pouco das pessoas do Movimento para testá-las. No entanto, a morte do meu sogro, um voluntário, abriu os meus olhos para o amor concreto da família da Obra. A partir daquele momento comecei a viver esta espiritualidade com a mente e o coração.

Nos primeiros anos de casados procuramos fixar-nos só em Jesus em nosso meio, primeiro como casal e depois como família, com os nossos três filhos, que, ainda hoje, partilham esta escolha conosco.

Em 1989, durante a guerra do Líbano, a situação era dramática: o conflito longo e difícil semeava morte e destruição em toda a parte com a conseqüente falta de trabalho, fechamento das escolas e repartições. Meu irmão me propôs a transferência com a família, para os Estados Unidos, onde ele vivia. Deste modo, trabalharia lá, na Universidade.

Como docente universitário poderia tirar um ano de licença, por isto aceitamos, preferindo confiar somente em Deus que é Pai e nos guiaria e iluminaria também na nova aventura. Nos Estados Unidos, encruzilhada de raças, vivemos a rica experiência de constatar que povos de culturas e sensibilidades diferentes podem viver juntos.

Daisy: Foi um ano muito intenso e cheio de provações, que nos permitiram, porém, experimentar o imenso amor de Deus por nós e pela nossa família, cada vez mais unida. Muitas vezes nos perguntamos qual seria a decisão mais certa, se voltar para o Líbano ou ficar numa nação que nos oferecia tanto. Nós dois, tínhamos, na verdade, encontrado, cada um seu trabalho e poderíamos obter a nacionalidade americana. Além disto o futuro dos nossos filhos estaria assegurado.

Samir: Por estes motivos a decisão não era fácil. Não sabíamos o que fazer, sentíamos contudo, que não poderíamos abandonar o nosso país, pela situação difícil que estava atravessando. Confrontamo-nos bastante com os filhos e com a família da Obra e decidimos voltar ao Líbano, porque vimos que era vontade de Deus para nós. Estávamos convictos que amar o nosso povo era mais importante que a segurança econômica e as certezas que os Estados Unidos nos poderiam assegurar.

Alberto: Depois desta experiência mudou algo para vocês no regresso?

Daisy: Com certeza! De regresso ao Líbano, a nossa vida mudou profundamente.

Compreendemos, com esta experiência vivida na América, que o critério da felicidade não reside nas circunstâncias externas (o país, a raça, a riqueza, a segurança, a situação social...) mas pelo contrário, no nosso relacionamento com Deus e com o nosso próximo.

Na verdade, na nossa terra vivemos com os muçulmanos e em unidade com toda a Obra conseguimos construir uma fraternidade real com muitos deles, quando voltamos.

Uma vez, até fizemos um encontro na Síria, a nação que estivera em conflito com a nossa. Os relacionamentos eram ainda difíceis e cheios de preconceitos. Mesmo assim, pudemos vivenciar uma profunda conversão. Entendemos que os sírios são nossos irmãos e que devemos dar a vida também por eles.

Os voluntários da nossa região viveram conosco estes novos relacionamentos. Multiplicaram-se os contatos que são cada vez mais enriquecedores.

Alberto: Sabemos que para chegar aqui enfrentaram muitas dificuldades também interiormente. O que nos podem contar hoje?

Samir: Durante o último mês de guerra compreendemos ainda mais o nosso papel como testemunhas do amor entre muçulmanos e cristãos no nosso país. Foi o que aconteceu no Centro Mariápolis onde acolhemos 150 pessoas na maior parte muçulmanos.

Formamos juntos uma família ligada pelo amor e pela fraternidade. Estamos certos de que o nosso papel como cristãos no Oriente Médio não seja apenas estar ali, mas ser uma presença ativa na vida política e nas Instituições governativas.

Atualmente, quando grande parte dos libaneses se encontra cada vez mais angustiada pelo futuro e ainda tenta deixar o país, nós sentimos o amor de Deus que nos acompanha e nos fixa dia após dia na nossa terra, sem que nos preocupemos com o futuro e nos ajuda a comunicar a esperança vivendo a vontade de Deus no momento presente.