quinta-feira, 29 de abril de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 4

EMERGE A VOCAÇÃO

Etta: Os voluntários crescem, se multiplicam em toda a parte e Chiara sente cada vez mais que são uma realidade importantíssima da Obra.

Alberto: Em 1967 Chiara chamou ao Centro da Obra para representar o setor dos voluntários e das voluntárias, uma focolarina e um focolarino: Claretta e Turnea.

Claretta: Chiara, dando-me este encargo fez com que os voluntários dessem um grande passo, isto é, distinguiu do focolare o setor das voluntárias, que tem funções diferentes, com vocações diferentes. Nasceu o Centro das Voluntárias, porque passou a ser um setor independente, digamos, distinto.

Pouco a pouco as voluntárias vieram morar nas proximidades para trabalhar para o Centro. Chiara nos chamou a Loppiano, em 1968, se não me engano, e nos disse, representando as voluntárias e aos voluntários, que entraríamos no Centro da Obra. Portanto, eram os voluntários que entravam num relacionamento direto com Chiara. Naquela ocasião, Chiara disse uma coisa especial. Ela falou da vocação do focolarino e da vocação do voluntário. Disse: «É como dizer: é mais bonita a tulipa ou a rosa? O mar ou a montanha? São duas belezas diferentes, mas cada uma tem uma beleza especial, com características próprias».

Turnea: (...) Tratava-se de conscientizar os voluntários de algo que nem sequer conheciam, mas que sentiam no seu coração, e os focolarinos deviam saber que a vocação dos voluntários é uma autêntica vocação.

(...) A presença deles na humanidade no trabalho, na família, na sociedade, aperfeiçoando-se na própria profissão, em todas as realidades humanas introduz um modo novo de elevar a partir de dentro... Não de santificar, com uma benção de fora, as realidades humanas, mas de fazer surgir a partir de dentro das realidades humanas tudo o que existe de divino já depositado ali. Esta é a humanidade que se renova.

Etta: Em 1966 Chiara, numa audiência pública, apresentou pela primeira vez ao Papa as voluntárias. Estava com ela uma das primeiras voluntárias de Roma, Alessandra Zenari. Num segundo encontro, o Papa recebeu os voluntários e lhes disse: «Mostrem que são realmente uma chama – Focolare – acesa na Santa Igreja de Deus».

Alberto: Em 1968, Chiara sentiu que os voluntários são chamados a restituir à Igreja e ao mundo a beleza da vida dos primeiros cristãos porque como eles, testemunham, difundem e irradiam.

No verão daquele mesmo ano, realizou-se a primeira escola para voluntários na Mariápolis permanente de Loppiano. Focalizou-se a vocação e todos voltaram para as suas regiões com entusiasmo, com renovado empenho e responsabilidade para serem instrumentos de Deus para a humanidade.

Etta: Certamente é uma vocação fascinante, mas também muito exigente. Está aqui conosco Mechtild, a primeira delegada das voluntárias da Alemanha. Teríamos mil perguntas sobre o início, mas vamos fazer pelo menos uma: «O que fascinou você dessa vocação? Tem um episódio especial para contar?»

Mechtild: Em 1960 conheci em Zurique o Movimento dos Focolares. Foi decisivo para mim um episódio especial, em 1969, durante uma escola para voluntárias em Loppiano.

Recebemos um telefonema de Chiara que nos disse algo maravilhoso: deu-nos como modelo Maria, acrescentando que Maria é criatura, repleta de Deus.

Estar totalmente ancorada em Deus e ao mesmo tempo completamente mergulhada no mundo, me fascinou. Viver como mulher na sociedade: esta era a minha vocação! E posso dizer que me apaixonei pela vocação da voluntária.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 3

UMA VOCAÇÃO NOVA

Etta: Com Duccia, numerosas pessoas participaram dessa vida desde o início ao lado do primeiro focolare; no entanto, a vocação, como a conhecemos agora, deslancha só depois do apelo de Chiara. É dali que começa a delinear-se mais claramente a figura do voluntário. Assim Chiara mesma a descreve:

Leitora: É a hora dos leigos. Os voluntários são pessoas tipicamente leigas da cabeça aos pés. Sentem a atração de criar a comunidade cristã. Então, se são leigos, preferem permanecer no mundo, lá onde Deus os colocou. (...) Mas visto que estão em meio ao mundo, não querem deixá-lo tal como é, acender só pequenas labaredas, deixando o resto apagado. Eles querem consagrá-lo totalmente a Deus. Querem levar o mundo inteiro a Deus. Querem incendiar tudo aquilo que existe no mundo, as coisas sociais, a arte, a ciência... (Chiara às focolarinas internas: A Obra hoje – 23.12.1963)

Alberto: Foi assim que esta vocação nova fascinou muitos e não só na Itália mas também em todos os países onde o Ideal da unidade pouco a pouco foi se difundindo: na Europa e depois nos outros continentes.

Temos a alegria de ter aqui entre nós, alguns dos pioneiros; homens e mulheres que, de certo modo, nos abriram o caminho: Simone, da França, Rosa, da Espanha, Cláudio, da Argentina, dele veremos um breve vídeo; Mechtild, da Alemanha, Pierangelo, da Itália.

Etta: Vendo-os hoje aqui, temos que lhes fazer algumas perguntas sobre o encontro de vocês com esta espiritualidade. Simone: foi fácil para você descobrir a sua vocação como voluntária?

Simone: Na Mariápolis de Friburgo, em 1960, notei uma luz, um amor entre as pessoas que jamais havia visto. Eu tentava entender a razão disso, até o momento em que esta frase «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles» (Mt 18,20) me fez compreender que não se tratava de algo, mas de Alguém. Imediatamente, senti um chamado muito forte para segui-lo.

Após isso, passei por um longo período doloroso, porque via a meta, mas não encontrava o caminho. Eu me sentia sozinha, com efeito, não havia voluntários na França. Contudo, acreditava nessas palavras: «A quem me ama, me manifestarei».

Quando Chiara, também em 1964, definiu a vocação do voluntário num discurso de fundação em Roma, tive a certeza de que era esta a minha vocação. Vi neste encontro pessoas que já viviam assim em outros países e logo senti que fazia parte de um corpo: isso me deu a força para ir em frente.

Desde então, com algumas, começamos a nos reunir e foi assim que nasceram as voluntárias na França. Este período permaneceu em mim como uma recordação entusiasmante.

Etta: Ouçamos agora o que disse Cláudio, um dos primeiros voluntários da Argentina.

Vídeo - Cláudio Zorini: O chamado que Deus dirigia a mim significava viver o Ideal no lugar onde eu estava: na minha família; eu era casado e tinha dois filhos naquele momento; e também no trabalho. Eu era músico e para mim a música, a arte, era um dom infinito de Deus. Eu sentia que devia viver esta nova vida no ambiente em que eu crescia. Esse era o chamado forte que sentia. Acho que foi em 1962 que Chiara falou sobre os voluntários, descrevendo-os como os primeiros cristãos do século XX. Para mim e para alguns dos primeiros, que estavam comigo, foi o eureka, encontramos. Na verdade, foi a alegria mais profunda da minha vida.

Etta: E você, Rosa?

Rosa Serrahima: Conheci o Movimento nos anos 60. Foi em Barcelona, Espanha, que tive o primeiro contato. (...) Eu me senti atraída por Jesus no meio. Desde então Ele é o farol da minha vida e por isso o núcleo é para mim fundamental. É ali que devo ir para estabelecer Jesus no meio. E a seguir, viver as 24 horas do meu dia. Com a família, com os amigos, com todos, mas vivemos de outro modo: levando ao mundo esta presença de Jesus. E isso as pessoas sentem e nos perguntam o motivo do nosso comportamento.

Etta: Estava nascendo uma vocação nova. Como uma criança quer conhecer o sentido profundo do seu estar no mundo e procura o olhar de quem mais a ama, também nós continuávamos a nos dirigir a Chiara.

Alberto: Portanto, se quisermos conhecer o DNA do voluntário, devemos ouvir as suas palavras, porque nelas está o carisma da Obra e portanto toda a luz sobre a nossa vocação.

Leitora: Vocês não sabem quanto eu sinto a vocação dos voluntários. Por quê? Porque exerce em mim uma grande atração...: a mais alta contemplação em meio ao mundo, lado a lado em meio a uma multidão, em meio aos famintos, em meio aos esfarrapados, em meio também aos senhores, em meios aos deputados, em meio aos reis, em meio a quem vocês quiserem. As pessoas pensam que vocês são iguais a elas, talvez com um vestido de gala, porque você é uma voluntária e deve, à noite, usar o vestido de gala, ao invés, você está em contemplação de Deus. Esta sim que é uma atração daquelas...! (12.04.1968)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 2

Trento 1943-44 - A primeira semente - O AMOR PELA HUMANIDADE

Etta: Portanto, em Budapeste surgiu a primeira centelha e dali foram colocadas as primeiras pedras da nossa história. Na realidade, a nossa história como voluntários começou antes, com Chiara, em Trento, durante a Segunda Guerra Mundial.

Alberto: Desde os primeiros tempos de Ideal Chiara sentiu imediatamente um forte impulso de correr ao encontro da humanidade. Trento foi várias vezes atingida pelos bombardeios: o sofrimento das pessoas, os lutos, a pobreza fustigavam a cidade ferida. Chiara e as primeiras companheiras ajudavam a todos, socorriam e queriam contribuir para resolver o problema social de Trento.

Etta: Encontraram a resposta no Evangelho. Elas liam o Evangelho nos abrigos antiaéreos, sob as bombas. Vinham em relevo aquelas palavras de Jesus que mais explicitamente falavam de amor: um amor concreto, dirigido a cada próximo, mas que, pelas condições dolorosas da guerra, estava voltado para os mais pobres.

Alberto: Assim a cidade foi dividida em bairros e começaram pelas obras de misericórdia. As ajudas eram cotidianas, pequenas e grandes, alimentadas por contínuas intervenções da providência. Desse amor evangélico nasceu o desejo de uma maior justiça social.

Leitora: Eu penso que a nossa experiência, de quando Jesus no nosso meio “multiplicava os pães”, digamos, para ajudar a resolver o problema social de Trento, era uma manifestação do desígnio dos voluntários, como a primeira semente.

Alberto: Em Trento, naqueles anos, Chiara conheceu uma pessoa que se tornou uma figura emblemática da nossa história: Duccia Calderari.

O seu pai era dono de um banco da cidade; ela trabalhava como assistente social e enfermeira, colaborava com os antifascistas, que lutavam pela liberdade. Um deles era Gino Lubich, irmão de Chiara. Foi através dele que Duccia conheceu Chiara.

Etta: Este encontro foi determinante para Duccia, que compreendeu imediatamente a potência revolucionária do carisma. Seguiu Chiara com radicalismo e ficou ao lado das primeiras focolarinas para ajudar os mais necessitados. É o que testemunha também um episódio, um fato extraordinário, fruto do Evangelho vivido, que eram numerosos naqueles anos de guerra.

Vídeo - Duccia:

“Meu tio me deu um par de sapatos para dar a um pobre. Ele os tinha comprado para si, mas infelizmente estavam apertados e portanto não lhe serviam. Pensei em levá-los logo para Chiara, porque com as suas companheiras encontravam os pobres todos os dias. Naquele dia, porém, não encontrei nenhuma delas. Dado que estava com pressa, coloquei-os num embrulho e debaixo do braço e me encaminhei para o hospital. Encontrei justamente Chiara, que estava saindo de uma igreja. “Que bom ver você Chiara – lhe disse – trago um par de sapatos nº. 42 para um dos teus pobres”. “Fico mesmo feliz – me respondeu –, pois precisava deles”. Eu não sabia que pouco antes, Chiara, com as suas companheiras, tinha pedido um par de sapatos masculinos nº 42 para Jesus num pobre.

Alguns anos depois – ela já estava em Roma – fui procurá-la, disposta a fazer o que ela me sugerisse. Ela me disse logo: “Não, a tua via não é aquela do focolare. A tua vocação é a do bom samaritano. Deves viver no teu ambiente e levar o Evangelho ao teu ambiente”.

Alberto: Em 1948 Chiara conheceu Igino Giordani.

Giordani era uma personalidade de vasta experiência cultural, social, política e eclesial. Escritor, jornalista, deputado no Parlamento. Ficou logo impressionado com Chiara e no carisma encontrou a resposta para o seu anseio de santidade e de realização da mensagem evangélica no social. Ele, tão importante e maduro, seguiu Chiara com a pureza de uma criança: mais tarde o chamaremos de Foco.

Exatamente naqueles primeiros tempos houve um encontro significativo de Chiara e Foco com Duccia.

Etta: Sim, Duccia nos contou como foi este encontro, dizendo que pouco tempo depois foi chamada para trabalhar com Foco em Roma. Chiara percebeu neles algo que os fazia semelhantes: o amor dos dois pela humanidade.

Leitora: Para nós Foco sempre simbolizou a humanidade. Ele mantinha a nossa alma aberta para toda a humanidade, que impedia qualquer forma de reclusão, limitação. Ele, realizando o “tipo” do leigo, foi a razão do desenvolvimento do Movimento, em muitos dos seus aspectos. (...) Mas sobretudo Giordani foi a semente de toda a parte leiga do Movimento dos Focolares. Foi por ele que o Movimento sentiu a vocação particular para permear as realidades humanas do espírito de Deus.

sábado, 10 de abril de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 1

História dos Voluntários

Introdução

Alberto:
Não é somente uma festa. Na vida do ser humano normalmente os 50 anos demarcam uma data importante: examina-se o que aconteceu; faz-se um balanço e projetos para o futuro.
Faremos o mesmo no nosso cinqüentenário?

Etta:
Claro. Este momento é importante para todos os voluntários. Alguns aqui presentes participaram desta aventura desde o início; outros chegaram mais tarde e outros – como nós dois, por exemplo – há 50 anos nem tínhamos nascido. Porém, o que nos une é pertencer à mesma família e ter recebido o mesmo chamado a ser voluntários.

Alberto:
Isso mesmo. Contudo, para fazer parte de modo consciente de uma família, habitualmente é preciso conhecer a sua história e perguntar, por exemplo: de onde viemos? Como os nossos pais se conheceram? Quem eram os nossos parentes mais antigos?

Etta:
A mesma coisa, em certo sentido, vale para nós, voluntários. E é natural então se perguntar: como tudo nasceu? Quem colocou as primeiras pedras? Onde, como e quando conseguimos ser o que somos hoje?

1º Capítulo
BUDAPESTE 1956
A CENTELHA

Etta:
Há 50 anos, exatamente aqui, em Budapeste, se acendeu a primeira centelha da nossa história. Mas o que aconteceu exatamente? Como ocorreram os fatos da Hungria?

Alberto:
Era o dia 23 de outubro de 1956. Começou um protesto pacífico por parte dos estudantes reivindicando a liberdade. Alargou-se a seguir ao povo e se transformou numa revolução. Naqueles dias, emergiram os valores da fraternidade e da solidariedade que estavam adormecidos no profundo da alma das pessoas.
Nos primeiros dias de novembro o exército soviético invadiu Budapeste e todo anseio de liberdade foi reprimido no sangue. O mundo ficou paralisado, incrédulo.

Etta:
Neste clima o papa Pio XII fez um dramático apelo, que recebeu a resposta de Chiara, que deu início à aventura dos voluntários e das voluntárias.

Voz de Pio XII na mensagem radiofônica:
«Deus! Deus! Deus! Que ressoe este inefável nome, fonte de todo o direito, justiça e liberdade, nos parlamentos e nas praças, nas casas e nas oficinas, nos lábios dos intelectuais e dos trabalhadores, na imprensa e na rádio. O nome de Deus como sinônimo de paz e de liberdade seja a bandeira dos homens de boa vontade».

Voz de Chiara (Congresso Gen 2, janeiro de 1976):
Será possível que existam no mundo pessoas que se dêem totalmente pelas causas que não são a causa absoluta, que não é Deus, e dêem a própria vida, morram, se sacrifiquem por isso, etc. e não existam cristãos que, voluntariamente, se doem a Deus para levá-lo ao mundo? A ponto de o papa gritar ao mundo: “Deus, Deus, Deus...”. Esta foi como que a centelha. Ali nasceu uma chama e alguns tomaram essa decisão: “Nós queremos ser esses voluntários”, isto é, os voluntários de Deus».

Etta:
Num artigo, publicado em janeiro de 1957 na revista Città Nuova, Chiara vislumbra neste dramático momento histórico uma urgência que deve encontrar uma resposta.

Leitora:
Houve uma sociedade capaz de eliminar o nome de Deus, a realidade de Deus, a providência de Deus, o amor de Deus do coração dos homens. Deve existir uma sociedade capaz de recolocá-lo em seu lugar.
(...) É preciso que surjam autênticos discípulos de Jesus no mundo, não só nos conventos. Discípulos que voluntariamente o sigam, impelidos só por um amor luminoso por Ele, nesta hora tenebrosa, e pela sua Igreja. (...) Um exército de voluntários, porque o amor é livre.