quinta-feira, 27 de maio de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 8

INTERVENÇÃO DE CHIARA - Mensagem para o Voluntarifest

Caríssimas voluntárias e caríssimos voluntários de Deus,

As minhas calorosas boas-vindas a todos vocês que, ao festejarem 50 anos de vida, marcaram um encontro “histórico”, vindo até aqui de todos os ângulos do planeta. Por quê? Para testemunhar, com a própria vida, um chamado pessoal de Deus. Vocês já reviram a sua história e compreenderam que esta vocação nasceu de circunstâncias externas – a Revolução Húngara – e por inspiração do Espírito Santo. Muitas coisas mudaram nesses 50 anos, para a Hungria, para a Europa, para o mundo, mas a meta que propus na época: «compor um bloco de homens de todas as idades, raças, condições, unidos entre si pelo vínculo mais forte que existe: o amor recíproco; amor que funde os cristãos numa unidade divina indestrutível, apesar dos ataques do humano e do mal», permanece atual. E permanecerá sempre assim, em sociedades sem uma orientação precisa como as nossas e cheias de sonhos e de potencialidades.

Neste quadro exigente, mas repleto de luz e de esperança, a vocação do voluntário é estupenda e jamais será suprimida pelos eventos. Por isso agradecemos a Deus por tê-los chamado a viver uma vocação tão totalitária, tão livre, tão essencial.

Vocês, como leigos, vivem nas condições normais da vida familiar, profissional e social, e justamente por isso são chamados a edificar, como o fermento na massa, o Reino de Deus no mundo.

Sim, justamente mergulhando nas coisas do mundo é que vocês se fazem santos. E oferecem à Obra de Maria inteira algo magnífico, porque trabalham para clarificar o mundo, não só para continuar a criação de Deus, mas também a redenção das coisas. Com o esforço que fazem e com o próprio trabalho, podem contribuir para criar os “céus novos” e a “terra nova”. Cristo, de fato, junto com o cosmo, redimiu também as obras do homem, que permanecerão, se forem edificadas no amor.

Caríssimos voluntários, vocês responderam livremente a Deus e essa é a “essência” da sua vocação. Dia após dia, vocês renovam essa escolha radical, segundo os compromissos escritos no seu Regulamento, no espírito da Obra de Maria.

Esse caminho, devido à espiritualidade da unidade, que os anima, é percorrido como um corpo. Nesta época, o Espírito Santo convida com força os homens a caminharem juntos, ao lado de outros homens. Aliás, convida a serem “um só coração e uma só alma”, porque “nisso conhecerão que sois meus discípulos”. Foi essa característica que distinguiu a mais antiga comunidade de Jerusalém, que nasceu ao redor de Maria e dos Apóstolos. Foi isso que os primeiros cristãos testemunharam e vocês, no Século XXI, são chamados a imitá-los.

Com vocês, deverá despontar uma santidade coletiva, uma multidão que se santifica, porque os leigos são multidões e vocês podem conduzi-las à santidade. Hoje o mundo precisa de homens dignos de crédito, construtores de uma humanidade nova nos vários âmbitos da sociedade.

Quem pode realizar isso, a não ser Jesus entre nós, o único capaz de construir um mundo novo? É Ele que ainda hoje atrai os corações. Ele os funde numa unidade divina, unidade garantida por Jesus no meio com toda a Obra e por Jesus entre todos vocês. Por isso, é essencial a participação na vida do núcleo, para serem sempre iluminados por Ele em cada circunstância da vida.

Se a meta é a unidade, o segredo para realizá-la sabemos qual é: Jesus crucificado e abandonado.

Jesus, que no seu grito de abandono fez-se “nada” e fez-se tudo para todos, a fim de alcançar cada homem, não é uma figura distante, inatingível, pelo contrário, se oferece como modelo a ser amado e seguido na vida cotidiana para que possam ser verdadeiros voluntários, voluntários daquele Deus Amor que se manifestou em Jesus abandonado.

Sim, é com Jesus abandonado, amado em cada sofrimento, em cada trauma, em cada injustiça, e com Jesus entre vocês que poderão plenificar-se de Deus, de Sabedoria, para serem guiados por Ele ao governarem as coisas humanas.

Nesses dias, as suas experiências, melhor do que qualquer outra palavra, certamente farão emergir a riqueza de um amor vivido muitas vezes com heroísmo, outras no silêncio, por homens e mulheres que, sem distinção de idade, raça e cultura, tornam visível a presença do Ressuscitado.

Com vocês e com todos os membros da Obra de Maria, cresce e amadurece um povo novo, o povo da unidade, que transmite um novo paradigma cultural. De fato, já podemos entrever o Espírito de Deus soprar em todas as coisas: na arte, na economia, na política, no direito, nas diversas ciências, transformando tudo. E vocês, usufruindo os tesouros de luz, que jorram do Carisma, são chamados a dar uma contribuição específica, porque na vocação que vivem se manifesta toda a aspiração por Deus, mas também todo o amor pela criação.

Maria, criatura imbuída de Deus, é especialmente de vocês. Nela, que foi assunta aos Céus também com o corpo, todas as coisas da Terra estão divinizadas. Por meio dela, “flor da humanidade”, toda a criação volta a Deus purificada e redimida.

Acolhamos Maria como Mãe na “nossa casa” para cantarmos com ela o nosso “Magnificat”.

Coragem voluntárias e voluntários, muitos jovens aguardam o seu testemunho, a fim de se encaminharem com vocês pelos caminhos do mundo. Com todos aqueles que os seguirão, almejem realizar o projeto de Deus sobre a humanidade: a fraternidade universal.

Chiara Lubich


quinta-feira, 20 de maio de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 7

O HOJE DOS VOLUNTÁRIOS

Alberto: Na última Assembléia dos voluntários de 2002, se deu um passo em frente, uma passagem muito significativa: pela primeira vez foram eleitos como responsáveis do setor dois voluntários: Maria Ghislandi e Augusto Landucci.

Etta: Augusto, o que poderia nos dizer sobre a sua experiência como primeiro voluntário, delegado central do setor?

Augusto: Após a graça de ter tido Turnea, Pierlorenzo, Fons e Arnaldo (primeiros focolarinos) que, como vimos, nos ajudaram a crescer como voluntários, Chiara sentiu que o setor estava pronto para ser representado no Centro da Obra por um voluntário. A sua escolha recaiu sobre mim, inclusive porque, estando há muitos anos no Centro dos Voluntários, evidentemente Chiara me conhecia.

Etta: Que passo você sentiu que tinha que dar?

Augusto: Creio que todos os dias o passo a fazer é aquele de criar com todos a família, porque ainda antes de ser voluntários, é preciso ser todos Obra.

Claro, se eu penso em ser “responsável” de um setor, levo um grande susto e tenho vontade de fugir, mas nos socorre a graça de Deus, a graça de estado que se manifesta por meio de Chiara e portanto, procurando compreender a luz de Jesus no meio qual é a vontade de Deus, encontro a força para recomeçar sempre. Nesses anos, compreendi também que não se pode pretender ter Jesus no meio sem antes ter abraçado sempre, logo e com alegria Jesus abandonado. Por isso, coloco-me completamente nas mãos de Nossa Senhora.

Quando recebo a Eucaristia, experimento que não estou só e para além da função que tenho, me sinto unido a Chiara e a toda a Obra e isso me faz ir em frente com paixão e entusiasmo.

Alberto: Maria, o que mudou na sua vida depois de ter sido eleita delegada central das voluntárias?

Maria: Posso dizer que nada mudou e que tudo mudou. Nada mudou porque eu continuei a fazer a vontade de Deus, e, confiando nele, experimentei sempre que ele me acompanhou e me acompanha com a sua graça.

Mas posso dizer também que tudo mudou. Com esta responsabilidade logo senti que Deus me pedia uma nova fidelidade a Jesus abandonado e à Desolada para viver aquele “algo mais” de amor que nos faz estar sempre a serviço dos irmãos.

Alberto: Entrando mais profundamente na vida do setor, qual é a sua experiência?

Maria: Em primeiro lugar, posso dizer que fui acompanhada pelas palavras de Dori: «Sigam Chiara». Procurando estar em unidade com Chiara através dos responsáveis no Centro e nas regiões, cada dia vejo o setor com um olhar novo. A Obra é de Maria e Ela me ajuda a vê-la quase com os seus olhos. Experimento sempre, tanto nos numerosos encontros e relacionamentos pessoais, lendo os relatórios e as ricas experiências que recebo do mundo inteiro, quanto ela ama as voluntárias, pois vejo que a sua vida à serviço da Obra e da sociedade dá glória a Deus.

Sobre à minha experiência, sinto que vivo plenamente a responsabilidade que Chiara me confiou quando experimento que sou ajudada por Jesus no meio, pois ele é o único verdadeiro responsável da Obra.

Augusto: Agora desejamos lhes apresentar os dois Centros dos e das voluntárias. A cada um deles é confiado um aspecto da nossa vida... São os nossos conselheiros.

Maria: A função deles é importante, pois cada Centro leva para frente, como um único corpo, a vida do setor. Com Jesus no meio entre nós e com a contribuição específica que cada um deles oferece, estamos a serviço de Chiara para os e as voluntárias do mundo inteiro.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 6

A HORA DOS VOLUNTÁRIOS

Etta: Vivo e constante é o relacionamento com Chiara, que vai desenhando cada vez melhor o desígnio do voluntário na Obra.

Leitora: Hoje festejamos a Assunção de Maria aos Céus, também com o corpo. Ela pode lhes dar mais uma luz acerca do caminho que lhes chama a percorrer... Pois se Deus chama os focolarinos a representarem na Obra mais a alma de Maria, (...) Deus chama vocês, voluntários, a representarem na Obra mais o corpo de Maria... Esse é o símbolo de todas as expressões humanas no mundo, desde a encarnação no social, na economia, na arte, na educação, na saúde, etc., na qual vocês vêem traçada luminosa a vocação de vocês para chegar a Deus e levar com vocês a sociedade transfigurada. Numa criatura humana a alma sem o corpo não teria sentido. Assim a Obra de Maria, com os focolarinos, sem os voluntários, não seria nem de Maria nem da Igreja. (15.08.1980)

Pier Lorenzo: A mensagem de Chiara aos voluntários do dia 15 de agosto de 1980 chegou enquanto estávamos fazendo a escola de verão dos voluntários de todo o mundo, e Chiara nos deu este presente inesperado... Dizia: eu lhes dou Maria Assunta como protetora, porque ela é Humanidade Nova realizada. Ter Maria não só como modelo, mas como protetora especial dos voluntários, foi como um clarão de luz. »

Vídeo de Fons: Encontrei entre eles, no chamado que havia na alma deles, o mesmo radicalismo que experimentei com todos os outros focolarinos, também no primeiro focolare de Trento, quando eu vivia com Marco... Vi a mesma força de doação, a mesma decisão. De fato, o chamado de Deus é sempre um chamado a fazer a sua vontade, a segui-lo nas coisas que devemos fazer na nossa vida, para contribuir na transformação do mundo entre nós e ao nosso redor.

Vídeo - Dori: Estando com as voluntárias, sentia a necessidade de torná-las conscientes de que o cristianismo, que conheciam, era importantíssimo, porém que o Ideal pedia também uma aplicação da inteligência, pedia também a mente (...) Assim sentiram pouco a pouco o desejo de ler, de estudar (...) Interessar-se por tudo o que dizia respeito à vida social no próprio trabalho ou ao redor delas, pois faz parte da vocação delas penetrar no social, levando todo o espírito sobrenatural, que o Ideal contém e vivificando o trabalho de cada uma. Através desse empenho humano, (...) elas renovam também tudo o que tocam, que passa pelas mãos delas, tudo será renovado por uma luz, por uma força grande como é grande o Ideal na sua plenitude.

Em 1983, realizou-se em Roma, no Palaeur, um Congresso e vieram voluntários do mundo inteiro e muitos outros que queriam compreender em profundidade a vocação dos voluntários. Sem dúvida foi uma demonstração de que um mundo novo é possível.

Vídeo - Chiara no Palaeur: Uma das maiores convicções do nosso Movimento, por exemplo, durante estes 40 anos de vida, convicção comprovada pela experiência cotidiana, é esta: viver segundo a Boa Nova, desencadear no mundo a revolução evangélica é sinônimo de desencadear também a mais potente revolução social.

Arnaldo: A característica da vocação do voluntário em relação à Obra é que faz da Obra uma obra leiga e oferece à Igreja uma contribuição leiga, (...) que é captada, pela presença deles em todos os ambientes, como algo leigo, algo popular, normal, acessível a todos (...).

Etta: No dia 29 de junho de 1990 o Conselho Pontifício para os leigos aprovou os Estatutos Gerais da Obra com todas as suas ramificações e os respectivos regulamentos que foram aprovados em seguida pela Assembléia Geral. Assim foram aprovados também os regulamentos das e dos voluntários e de Humanidade Nova. Para nós, significou atingir a maturidade da vida e a garantia da autenticidade cristã dessa vocação.

Alberto: Em 1991 foi feita a primeira Assembléia dos voluntários. Uma Assembléia histórica para o setor, como Chiara nos disse:

Chiara: É o regulamento que faz desta hora uma hora histórica (...), como disse alguém, para o setor das voluntárias e dos voluntários. Histórica por quê? Porque após 35 anos do nascimento desse setor, fomos aprovados não só, digamos, por inspiração do carisma, mas também pela Igreja, pois ela aprovou a Obra com os Estatutos Gerais que vocês já conhecem e também com esses regulamentos específicos para cada setor. Portanto, vocês, quando o receberem, receberão a vontade de Deus, também por parte da Igreja, portanto é importantíssimo. (09.11.1991)

terça-feira, 18 de maio de 2010

DEUS EM TI

Carta de Chiara Lubich de 1943 endereçada a um grupo de moças.

Gostaria de estar ao lado de cada uma e falar com o coração nas mãos e com a delicadeza de Deus, e dizer o que se passa no meu coração:
Também em ti, o Altíssimo traçou um desígnio de Amor. Também tu podes viver por algo sublime na vida.
Acredita: Deus está em ti!
A tua alma em graça é centro do Espírito Santo: o Deus que santifica.
Reentra em ti: procura Deus, o teu Deus, o que vive em ti!
Se tu conhecesses quem carregas em ti!
Se, por ele, tudo deixasses...
Se essa breve existência, que escapa e se consome um passo todo dia, tu a dirigisses para Deus!
Ah! Se Deus fosse Rei em ti e todas as forças da alma tua e do teu corpo fossem servas deste Rei, a seu divino serviço!
Ah! Se o amasse com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças!
Então...apaixonar-te-ias por Deus e passarias pelo mundo anunciando a boa nova!
Deus existe. Vive por Ele.
Deus te julgará. Vive por Ele.
Deus será tudo para ti daqui a poucos anos, tão logo passe essa vida breve! Lança-te Nele.
Amai-o.
Ouve o que Ele quer de vós, em cada instante de vossas vidas.
Fazei isso com todo o ímpeto de vosso coração, consumindo nesse divino serviço todas as vossas forças.
Enamorai-vos de Deus!
Tantas coisas belas existem na terra! Mais belo ainda é Deus!
Que a vossa juventude não fuja e, entre os soluços de uma vida fracassada, não vos caiba dizer com santo Agostinho: "Tarde te amei! Tarde te amei, beleza sempre antiga e sempre nova!"
Não! [...] Agora te amo, meu Deus, meu tudo!
Ordena agora, e eu cumpro! A tua vontade é a minha! Quero o que Tu queres!
Enamorar-se de Deus na terra significa apaixonar-se por sua vontade, até que nossa alma, vivida neste divino serviço, o veja e o tenha consigo sempre.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 5


EM DIREÇÃO À HUMANIDADE

Etta: Chiara, de fato, no início de 1968, fundou o Movimento Sociedade Nova – depois foi chamado Humanidade Nova -; ela já considerava os voluntários como a alma desse Movimento, porque chamados a plasmar com a espiritualidade da unidade os vários âmbitos do social: da economia à educação, da arte à política, etc.

Alguns anos depois, em 1973, Chiara constatou que o empenho deles amadureceu e oficialmente lhes confiou Humanidade Nova, para que fossem os seus animadores.

Leitora: Pareceu-nos ver claramente que, naquela época, Deus fundou antes essas duas realidades para que um dia – e é este o dia – se transformassem numa só, embora na distinção: os voluntários (de Deus), hoje em dia mais formados e consolidados na sua característica de leigos a serviço do mundo, estão se manifestando como os operários ou também os soldados preparados por Deus, cheios do fogo sobrenatural, para levar o divino ao campo de batalha (= a Sociedade Nova), ao mundo. (...) Os voluntários compreendem por que nasceram e se lançam com paixão no mundo que lhes foi confiado (...). (01.02.1973)

Alberto: Temos aqui conosco um dos primeiros voluntários, Pierangelo Tassano. A sua experiência testemunha um grande amor pela humanidade, no ambiente em que vive.

Pierangelo Tassano: Quando Chiara, em 1973, abriu para nós, voluntários, este novo caminho com o Movimento Humanidade Nova, respondi logo com entusiasmo e com alegria. Por um lado, de fato, como voluntário, desejava viver no núcleo como numa escola de vida, de formação à unidade e também de ascese. Por outro, em Humanidade Nova, encontrei a natural realização da minha vida.

Desde 1957 era operário mecânico em um grande estaleiro da província de Gênova. Quando comecei, o ambiente estava impregnado por idéias marxistas. Tendo uma proveniência católica, sentia um clima quase irrespirável, tanto que logo me uni a poucos para fazer nascer na fábrica um sindicato de inspiração católica. Desde o início fui eleito para o conselho de fábrica, com encargos importantes também no âmbito provincial.

Todavia, eu me convencia cada vez mais que os valores sociais, em que acreditava: justiça, solidariedade, paz, eram terrivelmente traídos. Começou a se insinuar em mim infinitas perguntas sem respostas, até que entrei em crise profunda, vivendo esta situação sozinho.

Naquele período sofri um grave acidente na repartição, com um sério trauma torácico e a amputação de ambos os pés. A hemorragia foi tão abundante que colocou em risco a minha vida. Muitos operários, inclusive aqueles com quem muitas vezes entrava em conflito, fizeram uma competição para me doar sangue e me salvaram a vida. A seguir, vendo-me tão mutilado, senti minha fé vacilar, não encontrando respostas para essa minha desgraça.

Um dia, fui convidado a visitar a Mariápolis permanente de Loppiano. Ali fiz uma grande descoberta: Deus é Pai e todos somos irmãos. Para mim foi a Luz que me fez readquirir confiança e esperança. Descobri a origem e o fim da minha vida: Deus. Tornei-me um voluntário e senti um forte impulso interior que me levava a viver num modo novo as diversas realidades da fábrica, da família e das atividades políticas. Experimentava em todo lado que os relacionamentos com as pessoas mudavam para melhor.

A experiência com Humanidade Nova partia de um pacto forte de unidade com os nossos. Dali se iluminaram os valores fundamentais que se concretizam na busca constante do bem da humanidade, dando novo impulso ao meu agir e ao meu arriscar.

Em 1988, me aposentei. Fundamos uma cooperativa com mais 26 pessoas inspiradas pelo Ideal. Éramos movidos pelo desejo de dar respostas e esperanças sobretudo aos jovens desocupados, sobretudo desajustados. O objetivo principal era tentar enfrentar a desocupação, mas sentimos que era também a ocasião para viver relacionamentos de fraternidade com todos. Dessa experiência surgiram hoje 56 cooperativas, que dão trabalho à cerca de 1.200 pessoas.

Etta: Ao vermos estas e outras experiências em Humanidade Nova pedimos a Chiara que definisse de novo a nossa vocação. Ela respondeu a uma pergunta de André Martinet, um dos primeiros delegados dos voluntários da França.

Leitora: A típica figura do voluntário é a seguinte: é uma pessoa que se plenifica de Deus, de Sabedoria, para se deixar guiar por Ele no governar as coisas humanas. Portanto, a sua vida interior deve ser cada vez mais profunda e a sua vida exterior terá como limite a humanidade, que deve ser edificada como a sociedade de Deus.

Alberto: Outro exemplo eloqüente de voluntário engajado no social é Domenico Mangano, que há alguns anos já nos precedeu na Mariápolis Celeste. Cristão autêntico, político batalhador, Domenico dedicou a sua vida à busca incansável de conjugar os desafios do Evangelho com a vida cotidiana da família, do trabalho, da política. No último encontro dos voluntários em 2001, Domenico nos comunicou aquilo que nós consideramos o seu testamento espiritual.

Domenico Mangano: Então o que é esta vocação. Acreditemos ou não, sejamos conscientes ou não, fomos chamados pessoalmente pelo Eterno Pai. Vejamos em que consiste a vocação, partindo justamente do nosso Regulamento. Deus nos chama a seguir um caminho maravilhoso e estupendo, como diz o regulamento no artigo 2. Nós, voluntários, somos chamados a tornar visível, nos lugares onde estamos, e não em outros, nos lugares onde estamos, a Igreja, Jesus. E isso devemos fazer através das obras de misericórdia. Eu faço uma tradução um pouco mais pobre: com o amor distribuído aos outros e com o amor recíproco entre nós e com os outros.

Esta é a nossa vocação: tornar visível, lá onde estamos, a presença de Jesus, mas não com as palavras, com a nossa ação, por meio do amor derramado sobre os outros, o amor entre nós, o amor para com os outros. Tornar Jesus e a Igreja visíveis, levando Deus onde nós vivemos todos os dias. Este é o lugar privilegiado, onde nós podemos nos realizar como cristãos. O lugar onde realizamos a nossa santidade, é o mundo e todas as realidades sociais que nos circundam.» (Castelgandolfo, 1º de dezembro de 2001).