23.Jul.2010 | Dom Redovino Rizzardo, cs*
Foi o Papa João Paulo II quem inaugurou a prática de pedir perdão pelos pecados cometidos pelos homens da Igreja através dos séculos. Se seu exemplo fosse seguido, a história da humanidade deixaria de ser uma sucessão de opressões e violências, alimentadas pelo egoísmo, pelo orgulho e pela vingança, mesmo quando se ocultam atrás de palavras bonitas e altissonantes, como "justiça", "segurança" e "bem-comum".
Para o capuchinho Frei Raniero Cantalamessa, metade da humanidade deveria ser absolvida pela outra metade. Foi o que afirmou, alto e bom som, na homilia que proferiu na Basílica de São Pedro, no dia 2 de abril de 2010, sexta-feira santa. Para ele, os homens precisam pedir perdão às mulheres. Não, porém, com um pedido genérico e abstrato. Pelo contrário, sobretudo para quem se professa cristão, ele deveria levar a gestos concretos de reconciliação e conversão, tanto na família como na sociedade em geral.
Para o religioso, a violência que hoje assola a humanidade tem a sua origem dentro dos lares: «Ela é muito mais grave, não apenas porque se esconde atrás das paredes domésticas e é ignorada pela sociedade, mas por ser justificada com preconceitos culturais e pseudo-religiosos. As vítimas acabam indefesas, sós e desesperadas. Somente nestes últimos anos, graças ao apoio e ao encorajamento de várias associações e instituições, algumas delas encontram forças para vir à tona e denunciar os culpados.
Muita dessa violência é de matriz sexual. É o machão que demonstra a sua virilidade "esmagando" a esposa, sem perceber que, assim agindo, nada faz senão demonstrar a própria insegurança e fraqueza. E mesmo em relação à mulher que erra, é grande o contraste que se percebe entre o agir de Cristo e o que vigora ainda hoje em certo ambientes! O fanatismo pede a lapidação. Cristo, pelo contrário, aos homens que lhe apresentam uma adúltera, responde: "Quem estiver sem pecado, jogue a primeira pedra!" (Jo 8,7). O adultério é um pecado que se comete a dois, mas, desde os primórdios da humanidade (em alguns países, ainda hoje) a condenada é sempre a mulher...
A violência mais odiosa contra a mulher é a que tem sua origem precisamente onde deveria reinar o amor e o respeito mútuo, ou seja, no relacionamento entre marido e esposa. Evidentemente, em sã consciência, ninguém pode jogar sempre e somente a culpa no homem, pois pode-se ser violento também com a língua, e não apenas com as mãos e os pés. Mas ninguém pode negar que, na grande maioria dos casos, a vítima mais frequente é a mulher.
São inúmeras as famílias onde o marido se sente autorizado a levantar a voz e gritar: "Quem manda aqui sou eu!" Não são poucas as mulheres – e os filhos – que vivem sob a constante ameaça das explosões do "chefe". A esses homens seria necessário dizer amavelmente: caros colegas, criando-nos homens, Deus não nos deu o direito de nos enraivecer e bater os punhos na mesa por qualquer ninharia. A palavra que ele dirigiu a Eva depois do pecado: "Ele te dominará" (Gn 3,16) era uma amarga previsão, não uma autorização».
Até aqui as reflexões do frei, que podem parecer simples ou até mesmo ingênuas. Contudo, refletem uma realidade difícil de negar. Se dirigirmos o olhar sobre o mundo, perceberemos que, em inúmeros países, o peso maior da condução da família cai sobre as mulheres, tanto que cresce, em toda a parte, o número de lares sustentados e governados por elas. Há homens que se contentam em fazer o filho e... fugir – quando não retornam para acabar com a vida da esposa!
Para a Bíblia, «a mulher sábia vale mais do que todas as riquezas. Seu marido nela confia e ela lhe traz felicidade todos os dias de sua vida. A graça é enganadora e a beleza é passageira, mas a mulher que ama a Deus é digna de louvor» (Pr 31,10-11.30). «Em todo o caso – conclui Chiara Lubich – no exame final, ela também deverá responder a Deus não tanto sobre como viveu sua condição de mulher, de noiva ou de consagrada, ou sobre as qualidades femininas que possuiu. Não! Homens e mulheres serão julgados somente sobre o amor. No fim, seremos todos iguais. No Paraíso, não haverá "nem homem nem mulher" (Gl 3,28)».
*Bispo de Dourados.