(Agência Ecclésia)
Daquilo a que já várias pessoas chamaram a "intuição profética" de Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, nasceu a economia de comunhão. Um exemplo de que os carismas, este como outros que marcaram a história da Igreja, não se destinam apenas a renovar e formar espiritualmente as pessoas, mas incidem sobre a sociedade e a cultura.
Chiara Lubich sentiu-se chamada a contribuir para realizar na nossa época o testamento de Jesus: "Que todos sejam um, como Tu, Pai, e Eu somos Um" (Jo, 17-20). O Homem é criado à imagem de um Deus-comunhão e realiza-se na comunhão. Como consequência desse ideal de unidade, entre os membros do Movimento dos Focolares desde o início se procurou pôr em prática a experiência de comunhão de bens que caracterizou os primeiros cristãos, de quem se dizia que "entre eles não havia ninguém necessitado" (Act. 4, 32-34). Quando visitou São Paulo, no Brasil, em Maio 1991, Chiara Lubich intuiu que essa dinâmica de comunhão individual deveria estender-se às empresas e fez essa proposta.
Mas o que é que caracteriza as empresas de economia de comunhão? São empresas inseridas no mercado que adoptam as formas jurídicas comuns, mas que, por decisão livre dos seus titulares, se propõem destinar os seus lucros de acordo com critérios ditados pelo bem comum. Mais especificamente, propõem-se destinar esses lucros a três objectivos: ajuda aos pobres, sempre com o propósito de os tornar auto-suficientes ultrapassando a lógica assistencialista; contributo para a formação de pessoas à "cultura do dar" que está subjacente ao projecto e sem a qual ele não pode vingar; investimento na própria empresa, assegurando o seu futuro e expansão. Estas empresas, na sua maioria de pequena e média dimensão, estão hoje presentes em todo o mundo (dados sobre o montante dos lucros que foram distribuídos podem ver-se em www.edc-online.org).
Para além da distribuição dos lucros de acordo com estes critérios, estas empresas propõem-se adoptar uma conduta orientada para a cultura de comunhão, que deve marcar as relações no seu interior e entre os seus membros, tal como as relações com clientes, fornecedores, concorrentes, Estado e comunidade.
Podemos dizer que as empresas de economia de comunhão vêm responder a uma exigência posta em relevo de modo particular pela encíclica Caritas in Veritate: "O grande desafio que temos diante de nós - resultante das problemáticas do desenvolvimento neste tempo de globalização, mas revestindo-se de maior exigência com a crise financeira - é mostrar tanto a nível de pensamento como de comportamentos, que não só não podem ser transcurados ou atenuados os princípios tradicionais da ética social, como a transparência, a honestidade e a responsabilidade, mas também que, nas relações comerciais, o princípio de gratuidade e a lógica do dom como expressão da fraternidade podem e devem encontrar lugar dentro da actividade económica normal. Isto é uma exigência do homem no tempo actual, mas também da própria razão económica. Trata-se de uma exigência simultaneamente de caridade e de verdade." (n. 36).
Nesta linha, Luigino Bruni, professor de economia e expoente da elaboração teórica relativa à "economia de comunhão" salienta num artigo recente (da revista Città Nuova de 10-25 de Agosto de 2010) que estas empresas, como outras experiências que ultrapassam a lógica da busca do lucro numa perspectiva do interesse individualista e se orientam pelo bem comum, não podem ocupar um lugar marginal numa economia guiada por essa lógica individualista, como um "tapa-buracos" que remedeia apenas as consequências mais graves dessa lógica, sem alterar o modelo económico e social. Uma lógica que gera as desigualdades que nos escandalizam e que permitem que empresas salvas da falência com dinheiros públicos continuem a pagar retribuições milionárias aos seus gestores. São suas estas palavras: "A última fase do capitalismo (que poderemos chamar financiário-individualista) nasce de um pessimismo antropológico, que remonta pelo menos até Hobbes: os seres humanos seriam demasiado oportunistas e auto-interessados para pensar que possam empenhar-se com motivações altas (como o bem comum). Não podemos deixar a esta "derrota antropológica" a última palavra sobre a vida em comum: temos o dever ético de deixar a quem vier depois de nós um olhar positivo sobre o mundo e sobre o Homem.
Mas para que tudo isto não fique escrito no papel e se torne vida, é necessário um novo humanismo, uma nova estação educativa, são necessários aqueles "homens novos" que estão no centro do projecto da Economia de Comunhão, capazes de se empenharem e de trabalharem não apenas pelo lucro, mas também para fazerem da sua actividade laboral uma obra de arte. Se for assim, então a nova economia de mercado na qual estão a entrar novos grandes protagonistas (pense-se na África, por exemplo), poderá ser um lugar belo para habitar, viver, amar."
Pedro Vaz Patto
Daquilo a que já várias pessoas chamaram a "intuição profética" de Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, nasceu a economia de comunhão. Um exemplo de que os carismas, este como outros que marcaram a história da Igreja, não se destinam apenas a renovar e formar espiritualmente as pessoas, mas incidem sobre a sociedade e a cultura.
Chiara Lubich sentiu-se chamada a contribuir para realizar na nossa época o testamento de Jesus: "Que todos sejam um, como Tu, Pai, e Eu somos Um" (Jo, 17-20). O Homem é criado à imagem de um Deus-comunhão e realiza-se na comunhão. Como consequência desse ideal de unidade, entre os membros do Movimento dos Focolares desde o início se procurou pôr em prática a experiência de comunhão de bens que caracterizou os primeiros cristãos, de quem se dizia que "entre eles não havia ninguém necessitado" (Act. 4, 32-34). Quando visitou São Paulo, no Brasil, em Maio 1991, Chiara Lubich intuiu que essa dinâmica de comunhão individual deveria estender-se às empresas e fez essa proposta.
Mas o que é que caracteriza as empresas de economia de comunhão? São empresas inseridas no mercado que adoptam as formas jurídicas comuns, mas que, por decisão livre dos seus titulares, se propõem destinar os seus lucros de acordo com critérios ditados pelo bem comum. Mais especificamente, propõem-se destinar esses lucros a três objectivos: ajuda aos pobres, sempre com o propósito de os tornar auto-suficientes ultrapassando a lógica assistencialista; contributo para a formação de pessoas à "cultura do dar" que está subjacente ao projecto e sem a qual ele não pode vingar; investimento na própria empresa, assegurando o seu futuro e expansão. Estas empresas, na sua maioria de pequena e média dimensão, estão hoje presentes em todo o mundo (dados sobre o montante dos lucros que foram distribuídos podem ver-se em www.edc-online.org).
Para além da distribuição dos lucros de acordo com estes critérios, estas empresas propõem-se adoptar uma conduta orientada para a cultura de comunhão, que deve marcar as relações no seu interior e entre os seus membros, tal como as relações com clientes, fornecedores, concorrentes, Estado e comunidade.
Podemos dizer que as empresas de economia de comunhão vêm responder a uma exigência posta em relevo de modo particular pela encíclica Caritas in Veritate: "O grande desafio que temos diante de nós - resultante das problemáticas do desenvolvimento neste tempo de globalização, mas revestindo-se de maior exigência com a crise financeira - é mostrar tanto a nível de pensamento como de comportamentos, que não só não podem ser transcurados ou atenuados os princípios tradicionais da ética social, como a transparência, a honestidade e a responsabilidade, mas também que, nas relações comerciais, o princípio de gratuidade e a lógica do dom como expressão da fraternidade podem e devem encontrar lugar dentro da actividade económica normal. Isto é uma exigência do homem no tempo actual, mas também da própria razão económica. Trata-se de uma exigência simultaneamente de caridade e de verdade." (n. 36).
Nesta linha, Luigino Bruni, professor de economia e expoente da elaboração teórica relativa à "economia de comunhão" salienta num artigo recente (da revista Città Nuova de 10-25 de Agosto de 2010) que estas empresas, como outras experiências que ultrapassam a lógica da busca do lucro numa perspectiva do interesse individualista e se orientam pelo bem comum, não podem ocupar um lugar marginal numa economia guiada por essa lógica individualista, como um "tapa-buracos" que remedeia apenas as consequências mais graves dessa lógica, sem alterar o modelo económico e social. Uma lógica que gera as desigualdades que nos escandalizam e que permitem que empresas salvas da falência com dinheiros públicos continuem a pagar retribuições milionárias aos seus gestores. São suas estas palavras: "A última fase do capitalismo (que poderemos chamar financiário-individualista) nasce de um pessimismo antropológico, que remonta pelo menos até Hobbes: os seres humanos seriam demasiado oportunistas e auto-interessados para pensar que possam empenhar-se com motivações altas (como o bem comum). Não podemos deixar a esta "derrota antropológica" a última palavra sobre a vida em comum: temos o dever ético de deixar a quem vier depois de nós um olhar positivo sobre o mundo e sobre o Homem.
Mas para que tudo isto não fique escrito no papel e se torne vida, é necessário um novo humanismo, uma nova estação educativa, são necessários aqueles "homens novos" que estão no centro do projecto da Economia de Comunhão, capazes de se empenharem e de trabalharem não apenas pelo lucro, mas também para fazerem da sua actividade laboral uma obra de arte. Se for assim, então a nova economia de mercado na qual estão a entrar novos grandes protagonistas (pense-se na África, por exemplo), poderá ser um lugar belo para habitar, viver, amar."
Pedro Vaz Patto
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