quarta-feira, 12 de maio de 2010

VOLUNTARIFEST – 14/09/2006 - Pílula 5


EM DIREÇÃO À HUMANIDADE

Etta: Chiara, de fato, no início de 1968, fundou o Movimento Sociedade Nova – depois foi chamado Humanidade Nova -; ela já considerava os voluntários como a alma desse Movimento, porque chamados a plasmar com a espiritualidade da unidade os vários âmbitos do social: da economia à educação, da arte à política, etc.

Alguns anos depois, em 1973, Chiara constatou que o empenho deles amadureceu e oficialmente lhes confiou Humanidade Nova, para que fossem os seus animadores.

Leitora: Pareceu-nos ver claramente que, naquela época, Deus fundou antes essas duas realidades para que um dia – e é este o dia – se transformassem numa só, embora na distinção: os voluntários (de Deus), hoje em dia mais formados e consolidados na sua característica de leigos a serviço do mundo, estão se manifestando como os operários ou também os soldados preparados por Deus, cheios do fogo sobrenatural, para levar o divino ao campo de batalha (= a Sociedade Nova), ao mundo. (...) Os voluntários compreendem por que nasceram e se lançam com paixão no mundo que lhes foi confiado (...). (01.02.1973)

Alberto: Temos aqui conosco um dos primeiros voluntários, Pierangelo Tassano. A sua experiência testemunha um grande amor pela humanidade, no ambiente em que vive.

Pierangelo Tassano: Quando Chiara, em 1973, abriu para nós, voluntários, este novo caminho com o Movimento Humanidade Nova, respondi logo com entusiasmo e com alegria. Por um lado, de fato, como voluntário, desejava viver no núcleo como numa escola de vida, de formação à unidade e também de ascese. Por outro, em Humanidade Nova, encontrei a natural realização da minha vida.

Desde 1957 era operário mecânico em um grande estaleiro da província de Gênova. Quando comecei, o ambiente estava impregnado por idéias marxistas. Tendo uma proveniência católica, sentia um clima quase irrespirável, tanto que logo me uni a poucos para fazer nascer na fábrica um sindicato de inspiração católica. Desde o início fui eleito para o conselho de fábrica, com encargos importantes também no âmbito provincial.

Todavia, eu me convencia cada vez mais que os valores sociais, em que acreditava: justiça, solidariedade, paz, eram terrivelmente traídos. Começou a se insinuar em mim infinitas perguntas sem respostas, até que entrei em crise profunda, vivendo esta situação sozinho.

Naquele período sofri um grave acidente na repartição, com um sério trauma torácico e a amputação de ambos os pés. A hemorragia foi tão abundante que colocou em risco a minha vida. Muitos operários, inclusive aqueles com quem muitas vezes entrava em conflito, fizeram uma competição para me doar sangue e me salvaram a vida. A seguir, vendo-me tão mutilado, senti minha fé vacilar, não encontrando respostas para essa minha desgraça.

Um dia, fui convidado a visitar a Mariápolis permanente de Loppiano. Ali fiz uma grande descoberta: Deus é Pai e todos somos irmãos. Para mim foi a Luz que me fez readquirir confiança e esperança. Descobri a origem e o fim da minha vida: Deus. Tornei-me um voluntário e senti um forte impulso interior que me levava a viver num modo novo as diversas realidades da fábrica, da família e das atividades políticas. Experimentava em todo lado que os relacionamentos com as pessoas mudavam para melhor.

A experiência com Humanidade Nova partia de um pacto forte de unidade com os nossos. Dali se iluminaram os valores fundamentais que se concretizam na busca constante do bem da humanidade, dando novo impulso ao meu agir e ao meu arriscar.

Em 1988, me aposentei. Fundamos uma cooperativa com mais 26 pessoas inspiradas pelo Ideal. Éramos movidos pelo desejo de dar respostas e esperanças sobretudo aos jovens desocupados, sobretudo desajustados. O objetivo principal era tentar enfrentar a desocupação, mas sentimos que era também a ocasião para viver relacionamentos de fraternidade com todos. Dessa experiência surgiram hoje 56 cooperativas, que dão trabalho à cerca de 1.200 pessoas.

Etta: Ao vermos estas e outras experiências em Humanidade Nova pedimos a Chiara que definisse de novo a nossa vocação. Ela respondeu a uma pergunta de André Martinet, um dos primeiros delegados dos voluntários da França.

Leitora: A típica figura do voluntário é a seguinte: é uma pessoa que se plenifica de Deus, de Sabedoria, para se deixar guiar por Ele no governar as coisas humanas. Portanto, a sua vida interior deve ser cada vez mais profunda e a sua vida exterior terá como limite a humanidade, que deve ser edificada como a sociedade de Deus.

Alberto: Outro exemplo eloqüente de voluntário engajado no social é Domenico Mangano, que há alguns anos já nos precedeu na Mariápolis Celeste. Cristão autêntico, político batalhador, Domenico dedicou a sua vida à busca incansável de conjugar os desafios do Evangelho com a vida cotidiana da família, do trabalho, da política. No último encontro dos voluntários em 2001, Domenico nos comunicou aquilo que nós consideramos o seu testamento espiritual.

Domenico Mangano: Então o que é esta vocação. Acreditemos ou não, sejamos conscientes ou não, fomos chamados pessoalmente pelo Eterno Pai. Vejamos em que consiste a vocação, partindo justamente do nosso Regulamento. Deus nos chama a seguir um caminho maravilhoso e estupendo, como diz o regulamento no artigo 2. Nós, voluntários, somos chamados a tornar visível, nos lugares onde estamos, e não em outros, nos lugares onde estamos, a Igreja, Jesus. E isso devemos fazer através das obras de misericórdia. Eu faço uma tradução um pouco mais pobre: com o amor distribuído aos outros e com o amor recíproco entre nós e com os outros.

Esta é a nossa vocação: tornar visível, lá onde estamos, a presença de Jesus, mas não com as palavras, com a nossa ação, por meio do amor derramado sobre os outros, o amor entre nós, o amor para com os outros. Tornar Jesus e a Igreja visíveis, levando Deus onde nós vivemos todos os dias. Este é o lugar privilegiado, onde nós podemos nos realizar como cristãos. O lugar onde realizamos a nossa santidade, é o mundo e todas as realidades sociais que nos circundam.» (Castelgandolfo, 1º de dezembro de 2001).

Nenhum comentário:

Postar um comentário