Fabiane Roque, da agência Lusa.
Rio de Janeiro, 13 fev (Lusa) – Prestes a celebrar 20 anos desde seu lançamento numa cidadezinha no interior de São Paulo, no Brasil, o conceito de economia de comunhão (EdC) resiste, mesmo após a crise internacional e alguns percalços pelo caminho.
“Somos uma empresa como outra qualquer. Temos todos os problemas que as outras têm, mas quando o negócio é formado dentro desta prática de solidariedade, forma-se uma base que sustenta a mudança, a construção de algo melhor”, afirma o empresário Armando Tornelli, da farmacêutica brasileira ProDiet.
Iniciada por Chiara Lubich, em 1991, dentro do movimento dos focolares, que começara durante a segunda guerra mundial em Itália, a economia de comunhão tem como ideal priorizar a partilha e a comunhão dos bens, em detrimento do ideal de acumulação incessante gerado pela economia capitalista, mas sem querer alterar o seu funcionamento.
“Quando veio ao Brasil, a Chiara teve essa intuição, de que era preciso haver uma mudança nos padrões e na cultura do mundo empresarial (...)”, explica Graça Rocha, representante da EdC no Rio de Janeiro.
“Vontade de construção de uma sociedade mais justa sempre houve, o que mais chamou a atenção de Chiara não foi a pobreza em si, mas a grande diferença social, porque não era só a pobreza, mas a diferença social, esse escândalo da desigualdade”, destaca Andreia Cruz, coordenadora do Centro de Estudos em EdC.
Os princípios da EdC, que visam levar mais humanismo à economia, já atingiram 800 países, atraindo adeptos entre os empresários dos mais variados ramos, do setor têxtil ao farmacêutico.
O lucro não é condenado e tampouco se acredita numa maior participação do Estado; a liberdade para escolher ajudar é um dos princípios básicos do sistema.
O professor Roberto Cintra, que tem estudado o tema, explica que as empresas da EdC estão perfeitamente inseridas no sistema capitalista, mas compartilham uma lógica diferente, que valoriza os princípios mais humanos, de doação e partilha.
“O empresário divide os ganhos da empresa primeiramente reinvestindo em seu próprio negócio, em segundo, compartilhando-o com seus funcionários, e finalmente redirecionando uma parte para ajudar os mais necessitados”, explica.
Pedro Cruz, diretor-conselheiro da empresa Femaq, uma das pioneiras da EdC, conta que a primeira medida tomada pela companhia ao aderir ao movimento foi saber quais eram as necessidades de seus funcionários.
Descobriram que a maioria tinha o sonho de ter casa própria. “Percebemos que eles conseguiam até comprar o terreno. Mas depois não havia dinheiro para construir a casa”, lembra.
O que a empresa fez, neste caso, foi criar um fundo com o qual financiou a compra de material para a construção das casas de seus empregados.
“Na Femaq trabalhamos com pessoas muito humildes, foi uma grande realização para eles. O fundo financiava o material, mas a mão-de-obra era deles mesmo, uns ajudando os outros”, destaca.
Para Andrea, do Centro de Estudos Filadélfia, hoje é possível encontrar graus diferenciados de conseguir manter os princípios da Edc. “Mesmo as empresas que passam por dificuldades e adotam apenas parte do projeto, todas são muito válidas. Ainda estamos aprendendo a fazer a Economia de Comunhão”, conclui.
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